As dificuldades enfrentadas pelos moradores de Cambará do Sul para ter acesso à telefonia móvel foram tema de audiência pública nesta sexta-feira (13), no Salão Paroquial da comunidade de Vila Santana. Mais de 160 pessoas participaram do encontro, organizado pela Comissão de Assuntos Municipais, que contou também com a presença de representantes das operadoras TIM, Vivo e Oi.
O proponente do encontro, deputado estadual Lucas Redecker, afirmou que o tema não tem partido político, pois é um assunto da comunidade. “Quando se busca um espaço para a instalação de uma antena, se busca para todos. E é por isso que conseguimos juntar tantas pessoas e mostrar mobilização”, afirmou. Redecker sugeriu às empresas que analisem a possibilidade de instalação de antena junto à chaminé da Cambará Celulose, que tem 70 metros de altura e está desativada.
Para o parlamentar, esta seria uma forma de reduzir os custos para as empresas e atender com uma maior celeridade o pleito da comunidade. “Em certas regiões aqui de Cambará do Sul o celular serve apenas para ver as horas. O salto tecnológico que houve nos últimos anos foi imenso e a comunidade não entende porque está desassistida. Trouxemos as empresas para que elas possam visualizar o clamor da comunidade e mostrar a necessidade de pessoas físicas, jurídicas e do turismo”. Redecker disse ainda que a audiência pública busca o diálogo com as operadoras. “Queremos que as empresas, ao olharem suas prioridades, vejam que Cambará do Sul vai ponteando a lista pela mobilização, receptividade e interesse da comunidade”, disse.
O ponto de vista das operadoras
Vivo – O diretor de relações institucionais da Vivo, Daniel Silveira da Encarnação destacou a existência de quatro grandes problemas no que tange a ampliação da cobertura de telefonia móvel, principalmente nas comunidades rurais: a falta de uma obrigação legal para a execução da prestação do serviço, falta de interesse econômico, falta de uma política pública e a dificuldade técnica. “O que falta hoje no país são antenas e políticas públicas para que chegue a telefonia móvel às áreas distantes”, afirmou. Citou ainda que a comunidade de Vila Santana, bem como de outros bairros da redondeza, estão numa depressão geográfica, o que dificulta a chegada do sinal.
Oi – Jaime Borin, diretor de relações institucionais da operadora Oi, afirmou que a empresa está presente em 1860 comunidades no RS e que no caso específico de Cambará do Sul, algumas regiões tem dificuldade de captar o sinal porque as antenas não conseguem atingir regiões com grandes depressões geográficas. “Nós queremos chegar até a casa de vocês e, obviamente, com toda a qualidade”. E completou: “Uma antena tem custo a partir de R$ 500 mil, podendo chegar até R$ 2 milhões. Existe a viabilidade técnica e também econômica, porém o custo é muito elevado e a possibilidade de retorno muito pequena”. Ele ainda afirmou que há uma outra tendência que começa a ganhar força, quando o assunto é o atendimento de comunidades rurais. Trata-se da faixa de frequência de 450 mega-hertz, hoje utilizada pela polícia rodoviária e pelas TVs a cabo. Ele ainda destacou que, pelas regras da Anatel, o compromisso da operadora é atender 30% dos municípios gaúchos num raio de até 30 quilômetros da sede até o final de 2014 e outros 60% até o final de 2015.
TIM – O engenheiro da TIM, Gilberto Neto, ressaltou o que os representantes das outras duas operadoras já haviam afirmado e que a TIM cumpre com todas as suas obrigações legais em relação ao município. Afirmou ainda que está levando os pleitos encaminhados pela comunidade para análise da empresa.
Lideranças cobram solução
O prefeito Schamberlaen Silvestre disse que a vida das pessoas é muito difícil sem celular e agradeceu o fato de o deputado colocar-se à frente da defesa dos interesses da comunidade de Cambará do Sul. Ele aproveitou o encontro para pedir que o deputado interceda junto à concessionária de energia elétrica RGE para que proceda a retirada de dois postes que estão atravancando as obras de pavimentação da RS-020. As obras estão paradas e os postes têm sido usados como desculpa para a interrupção da obra.
Ivânio Amaral, representante da OAB, afirmou que a OAB e a Assembleia Legislativa estão trabalhando muito próximas na CPI da Telefonia Móvel, que está em andamento. Disse que pelo exposto no encontro, se percebe que há entraves tanto com a legislação federal como de distribuição do sinal. “Se há retorno financeiro para as operadoras ou não, se a legislação é desta ou daquela forma, não importa. O que importa é que se leve às operadoras a vontade do povo. Estamos em pleno século 21 e não termos uma telefonia móvel decente é impensável. Eu acho que é apenas questão de má vontade”, afirmou.
O presidente da Câmara de Vereadores, Eduardo Santos Pereira, bem como o vereador Hailton Boeira, destacaram as reiteradas queixas que tem recebido das pessoas. Afirmaram que são parceiros nesta luta e que vão insistir até que o pleito seja atendido. O vereador Nelsonir Nascimento, por sua vez, disse que a comunidade está organizada. “Acho que merecemos um tratamento especial. A comunidade está presente maciçamente e precisamos ser ouvidos” afirmou. Já o vereador Giovane Klippel, disse que os problemas são enfrentados em diversos pontos do município, como ao longo da RS-020, na Vila Unidos, Ouro Verde, entre outros. “Trago o pedido também dos caminhoneiros, pois quando estraga um caminhão na estrada, não há para quem pedir socorro”.
Por parte da comunidade, manifestou-se João Carlos, morador da Vila Santana. “Todos temos celulares e precisamos nos deslocar até a vila, mesmo com uma antena externa. Gostaríamos que vocês olhassem por nós. Sabemos que os investimentos são muito grandes, mas vocês estão investindo em pessoas”, disse ele dirigindo-se aos representantes das operadoras. “Há 15 anos estamos à mercê de um sinal de celular que nunca chegou. É a voz de muitas outras pessoas da comunidade que estão aqui”, complementou.
O chefe de gabinete do prefeito, Alécio da Rosa, fez uma provocação às lideranças ao perguntar “o que seria dos senhores dois dias aqui em Cambará do Sul sem celular?” Ele parabenizou a presença maciça da comunidade, “que está ouvindo atentamente” e afirmou que para se completar uma chamada telefônica, muitas vezes, é necessário andar quatro ou cinco quilômetros.