A pedido do deputado estadual Lucas Redecker, a Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembleia Legislativa realizou, nesta sexta-feira (02), em Cambará do Sul, audiência pública para debater o tema “Agricultura familiar – alternativas de produção, técnica e assistência nas pequenas e médias propriedades rurais”. O encontro reuniu mais de 200 agricultores, além de lideranças da região e profissionais do campo, que foram até a Sociedade 15 de Março para ouvir a opinião de especialistas e lideranças sobre temas que estão desafiando a região, como as queimadas.
O deputado estadual Lucas Redecker abriu os trabalhos dizendo que é possível sim conciliar a produção no campo e a conversação do ambiente. Ele fez a defesa das queimadas controladas, tema também abordado na sequência pelos palestrantes, os professores Alindo Butzke, Adir Ubaldo Rech e Luiz Gonzaga Pereira Messias. Redecker manifestou-se em favor dos produtores rurais, dizendo que não se quer mudar as paisagens dos Campos de Cima da Serra, mas sim, garantir às pessoas que cultivam ou criam gado e ovelha, que possam continuar produzindo o seu sustento e de suas famílias legalmente sem serem tratados como bandidos quando queimam o campo, “pois essa é uma tradição de quem não tem recursos, de quem não tem como resolver o problema de outra forma”.
De acordo com o parlamentar, quem se manifesta contra a sapecada dos campos é porque não conhece a região. “Quem queima o campo não é o produtor; quem queima o campo é a geada. O produtor faz o trabalho de sapecar para que venha a nova plantação, para que possa dar sustento à sua família. Quem fala em roçada não conhece os Campos de Cima da Serra. Não se consegue colocar uma roçadeira presa num trator e andar sobre todos os campos, pois são dobrados e têm pedras – e muito menos se pode usar roçadeira manual, devido ao alto custo para roçar todas as áreas. A alternativa que se encontra é a mesma de muitos anos. Nunca aconteceu nada com as matas nativas, porque o que se queima é apenas o campo”, disse Redecker sob os aplausos dos produtores rurais. O parlamentar defendeu ainda a criação de uma política efetiva do governo para que minimize as dificuldades enfrentadas pelos agropecuaristas da região.
Os professores da Universidade de Caxias do Sul, Alindo Butzke e Adir Ubaldo Rech apresentaram o estudo realizado pela universidade e que comprovou que a queimada não altera significativamente os campos nativos. O estudo foi transformado no livro “Queimada dos campos – O homem e o campo – A Natureza, o fogo e a lei”, lançado pela instituição durante o evento. “A queimada de campo pode não ser a melhor prática para a maior rentabilidade na agropecuária mas, no caso dos Campos de Cima da Serra, em grande parte da área, talvez seja a única viável”, disse o professor. Já o chefe do escritório da Emater de São Francisco de Paula, engenheiro agrônomo Luiz Gonzaga Pereira Messias apresentou o programa de melhoramento do campo da Emater na região e também defendeu a prática, diante da ausência de outras mais viável no momento.
Dentre as manifestações da plateia, João Alberto Valentim, representando a Associação dos Produtores Rurais de Potreiros, de São Francisco de Paula, disse que é consenso na entidade que não se pode criar uma legislação sem que esta tenha efetividade. Ele sugeriu aos deputados um contato permanente com a Patrulha Ambiental (Patram) e para que esta passe a ver os produtores rurais como cidadãos e não bandidos que querem destruir o meio ambiente.
Durante o encontro foram colhidas também inúmeras sugestões, que serão compiladas pela Comissão de Agricultura. Além disso, todas as lideranças manifestaram-se pela aprovação do projeto de lei 175/2011, que está tramitando na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa e que prevê a regulamentação da prática da queima controlada em regiões não mecanizáveis ou onde a roçada seja inviabilizada.
Participaram do evento ainda, o presidente da Comissão de Agricultura, deputado Ernani Polo, além dos deputados Ronaldo Santini e Alceu Barbosa Velho. Presente também o prefeito de Cambará do Sul, Aurélio Alves de Lima, o vice-prefeito do município Schamberlaen José Silvestre; prefeito de Bom Jesus José Paulo de Almeida e o vice-prefeito Ajadil Barbosa de Almeida; prefeito de São José dos Ausentes, Erivelto Sinval Velho, além de vereadores e secretários municipais da região.