Se por um lado o acordo definitivo para o fornecimento de nafta petroquímica, selado entre Petrobras e Braskem, trouxe maior tranquilidade em relação à garantia de abastecimento, por outro criou uma nova preocupação sobre valores. A chamada terceira geração, formada pelos fabricantes de produtos acabados, teme o encarecimento dos custos com matérias-primas. O presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), Jaime Lorandi, aponta a importação como uma maneira de atenuar o impacto dessa situação.
Na semana passada, Petrobras e Braskem fecharam um contrato de nafta por um prazo de cinco anos e preço de 102,1% da referência internacional ARA (Amsterdã, Roterdã e Antuérpia o preço médio da nafta nesses três grandes mercados). Foi acordado entre as partes um dispositivo que permite, a partir de 2018, a renegociação das condições comerciais devido a ocorrências de mercado pré-determinadas. Lorandi reitera que o receio dos transformadores é a Braskem repassar o “prêmio” que a companhia pagará pela nafta da Petrobras. As empresas da 3! geração petroquímica fazem os produtos acabados (como copos plásticos, brinquedos etc.) a partir das resinas termoplásticas, que são provenientes de insumos como a nafta e que têm a Braskem como principal fornecedora dentro do Brasil. O presidente do Simplás enfatiza que o incremento do preço da nafta afetará a competitividade da cadeia do plástico, que tentará através da importação de resinas atenuar esse impacto.
O diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado João Luiz Zutieda argumenta que o valor fechado acima da referência ARA demonstra que o acerto foi o possível dentro do atual momento político e econômico do País. O consultor compara a solução adotada com uma espécie de CPMF, um mecanismo para auxiliar a Petrobras a ajustar as suas contas. No entanto, esse custo extra será arcado pela cadeia do plástico até haver uma reaproximação de valores com o mercado internacional. Porém, o especialista enfatiza que seria muito pior se nenhum contrato fosse consolidado. “Mas, no entender da MaxiQuim, esse não é um acordo de longo prazo que viabilize um retorno dos investimentos no setor petroquímico, como aconteceu no passado no Brasil”, afirma. Zufreda acrescenta que alguns empreendimentos poderão até ser destravados nessa base atual, contundo não será viabilizado um ciclo de grandes aportes no segmento.
Synthos trata de processo de licenciamento ambiental, mas não divulga cronograma de projeto
Um investimento que passa pela questão da nafta é o da Synthos. O grupo europeu pretendia aportar, conforme era estimado no início deste ano por dirigentes poloneses da companhia, em torno de R$ 640 milhões em uma planta de produção de borracha sintética no Polo Petroquímico de Triunfo. Para isso, a empresa irá consumir o butadieno da Braskem, que, por sua vez, é fabricado a partir da nafta. O procurador da Synthos no Brasil, Maurênio Stortti, diz que somente os diretores na Polônia podem se manifestar sobre assuntos comerciais. Porém, o empresário informa que a companhia solicitou, neste mês de dezembro, uma nova prorrogação de prazo para obter o licenciamento ambiental da fábrica (o grupo já possui a licença prévia e busca a de instalação), Stortti adianta que uma posição da Synthos deverá ser dada após a conclusão quanto à demanda ambiental.
O secretário estadual de Minas e Energia, Lucas Redecker, lamenta o tempo que levou para que Petrobras e Braskem chegassem a um acordo mais duradouro sobre a nafta (quase três anos). Essa postura, salienta Redecker, gerou insegurança e atrasou o desenvolvimento de projetos na área petroquímica. Apesar de considerar o recente acordo de nafta firmado como de médio e não de longo prazo, o secretário espera que seja suficiente para que a Synthos confirme o seu investimento em Triunfo. O dirigente frisa que a empresa polonesa postergou a iniciativa, mas nunca anunciou ao governo a desistência do empreendimento. A Synthos também aguardava o desdobramento de uma ação antidumping para prosseguir com o seu projeto.
A empresa Lanxess, que já possui produção de borracha sintética no Brasil (uma das unidades localizada em Triunfo), protocolou no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior pedido de investigação de dumping contra os produtores de borracha sintética que exportam para o País. O processo não era movido particularmente contra a Synthos, mas contra produtores de borracha em geral. Porém, segundo Stortti, a ação foi suspensa e assim esse obstáculo foi resolvido. Sobre a iniciativa da Synthos, o presidente do Simplás, Jaime Lorandi, considera difícil fazer uma previsão. Lorandi explica que, como existe a possibilidade de renegociação do acordo de nafta a partir de 2018, um complexo que tiver o começo de obras agora, quando ficar pronto, poderá estar sob a vigência de um novo acordo quanto à matéria-prima.
*Fonte Jornal do Comércio