A abundância das reservas de carvão mineral no Rio Grande do Sul justifica qualquer esforço, seja da iniciativa privada ou de governos, para que o Estado use essa riqueza e gere valor e desenvolvimento. O seminário “Novas Perspectivas para o Uso Sustentável do Carvão” não deixou dúvidas. Realizado na terça-feira (18), na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS), em Porto Alegre, o evento reuniu empresários que estão interessados em investir nos negócios possíveis relativos ao carvão, sobretudo, ligados a um polo carboquímico.
Com a parceria do Sindicato Nacional da Indústria de Extração de Carvão (Sniec), o presidente da FIERGS, Heitor José Müller, manifestou o apoio da entidade a um projeto integrado que trate a matéria-prima existente no Estado com o devido potencial que merece: “Podendo a extração de carvão mineral ser altamente tecnológica e limpa, é evidente que temos em nossa frente uma possibilidade de abrir o horizonte para essa nova economia”, afirmou.
Ele reforçou, com a presença do Secretário Estadual de Minas e Energia, Artur Lemos Júnior, que o desafio atual é, justamente, encontrar os meios de unir políticas públicas com a iniciativa privada. “Se a visão é transformar o carvão mineral em um importante fator econômico do Estado – e o potencial chega à casa de bilhões de dólares em investimentos –, então contamos com a sensibilidade de nossos políticos para ajudarem a viabilizar os projetos já em andamento e os muitos outros que poderão surgir”, destacou Müller.
Para o deputado Lucas Redecker, que representou a Assembleia Legislativa na abertura do evento, o carvão vem sendo debatido há muitos anos no Rio Grande do Sul, mas com poucas ações por parte do setor público. “Se nós não tivermos ações concretas, continuaremos sendo apenas o Estado que tem 90% das reservas de carvão mineral, que não traz retorno nem desenvolvimento para o Rio Grande do Sul e Brasil”, declarou. Ele enfatizou que é preciso que a sociedade saiba da existência de tecnologias modernas no mundo e que minimizam os impactos ambientais. “O polo carboquímico que está sendo debatido é uma perspectiva muito positiva e de resultados magníficos para o RS”.
Redecker citou o exemplo da Sulgás, que há mais de 20 anos compra dois milhões de metros cúbicos de gás por dia, sendo que todo o ICMS gerado fica para o Estado de Mato Grosso. “São R$ 160 milhões por ano que perdemos. Ou seja, esse valor poderia ficar para o RS se tivéssemos um debate mais avançado para ter uma gaseificadora de carvão em solo gaúcho, cujos estudos já comprovaram que é possível fazer aqui”. Citou ainda os fertilizantes produzidos a partir do carvão mineral, e como a desnecessidade da importação dos mesmos poderia beneficiar o agronegócio gaúcho, uma das principais atividades econômicas do Estado. “Temos todas as condições de dar um passo além da discussão e de concretizar o uso sustentável do carvão em solo gaúcho”, finalizou.
Não por acaso, a Secretaria de Minas e Energia trabalha para apresentar políticas que ajudem a competitividade do segmento de energia. Segundo o secretário, “quando falamos de carvão, é importante lembrar que o Rio Grande do Sul possui 89% das reservas nacionais. São mais de 28 bilhões de toneladas do mineral. Só que essa verdadeira ‘mina de ouro’ ainda carece de meios para se desenvolver”, reconheceu.
Potencial comprovado
Com uma estimativa de investimento na ordem dos bilhões de dólares, que vão desde infraestrutura necessária até a alta tecnologia de equipamentos que processam o carvão para gerar gás natural e outros insumos como uréia, amônia, metanol, metano (GNS) e até diesel, a FIERGS e o Sniec divulgaram um estudo de viabilidade que dá segurança a possíveis empresas locais, nacionais e estrangeiras, em projetos de investimento.
No final de 2016, as duas instituições assinaram um termo de cooperação técnica com apoio institucional do governo do Estado. A projeção já tem uma parte real. Somente um projeto capitaneado pela mineradora Copelmi dá conta de US$ 1,5 bilhão que sairá do papel em 2018. Será uma parceria de investimentos com a gigante sul-coreana Posco, uma das maiores siderúrgicas do mundo. Trata-se da construção de uma usina de extração de gás do carvão com capacidade para gerar até 2 milhões de metros cúbicos por dia. O diretor de desenvolvimento de novos negócios da Copelmi, Roberto Faria, foi um dos palestrantes do seminário e confirmou as informações.
Em sua percepção, muitas empresas se interessam pelos negócios no segmento de carvão que ultrapassem o âmbito da geração de energia elétrica nas usinas térmicas. “Um complexo carboquímico pode gerar uma movimentação econômica acima da casa de US$ 5 bilhões”, estimou. A ideia de um polo carboquímico gaúcho abre oportunidades para as cadeias produtivas de construção civil, metalmecânica, máquinas e equipamentos, química e outras.