Durante reunião da Juventude do PSDB em Porto Alegre (RS), neste sábado (09), o líder do partido no Senado, Álvaro Dias, criticou o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT), por defender que a investigação no Congresso Nacional tenha foco apenas no contraventor, e não nas denúncias sobre a construtora Delta. “O Cachoeira é a própria Delta, ele mesmo já havia afirmado isso”.
Segundo Álvaro Dias, a empresa participava de licitações públicas com propostas de valores minimizadas, e depois conseguia aumentar os preços graças ao tráfico de influência feito por Cachoeira. “Ele passou a ser um sócio oculto ou lobista para que a Delta conseguisse aditivos generosos nos contratos, com ganhos exorbitantes pelo superfaturamento de obras e serviços urbanos”, afirmou o senador paranaense.
Dias disse ainda que o relator comete um grave erro ao “minimizar” o papel da CPI. “A contravenção, o jogo do bicho, os caça-níqueis foram extremamente apurados pela Polícia Federal, que apresenta um resultado competente de investigação. À CPI, cabe analisar o desvio de recursos públicos, especialmente por meio da Delta, de suas conexões, seus tentáculos. A comissão não teria razão de existir se não fosse essa apuração”.
Sobre o envolvimento do governador de Goiás, Marconi Perillo, com o grupo de Cachoeira, Álvaro Dias disse que ele deve explicações não só ao PSDB, mas para toda a população. “Perillo precisa se explicar para a população. Há denúncias, exageradas ou não, mas elas existem e ele precisa se explicar. O nosso partido não é avalista da impunidade, por isso defendemos que ele vá até a CPI, onde terá oportunidade de responder a todos os questionamentos”, disse ao criticar a “blindagem” feita por alguns partidos ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
“O que não podemos é deixar que essa CPI se transforme na CPI de Goiás. Essa é uma investigação que tem outros capítulos e é hora de investigar assuntos de maior gravidade, o que inclui os contratos da Delta no Rio de Janeiro”, completou o senador do PSDB.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.
* Com informações do site Terra