Sete anos de investigações não foram suficientes para rastrear todo o dinheiro do mensalão e apontar a identidade dos beneficiários de boa parte dos recursos do esquema de financiamento político organizado pelos petistas.

De acordo com as informações reunidas pela Procuradoria-Geral da República, o mensalão mobilizou R$ 141 milhões em dois anos, somados vários empréstimos bancários e os recursos que teriam sido desviados de contratos com o setor público.

Nas alegações finais do processo, em que resumiu as conclusões a que chegou após anos de investigações sobre o assunto, a Procuradoria indicou os beneficiários de apenas R$ 32 milhões, menos de um quarto do total, sem esclarecer o que aconteceu com o resto do dinheiro.

Em 2005, quando o escândalo veio à tona, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão, apresentou às autoridades uma lista com repasses no valor de R$ 56 milhões que disse ter distribuído a pedido do PT.

Valério também entregou uma relação de empréstimos obtidos por suas empresas nos bancos Rural e BMG, no total de R$ 55 milhões, para tentar justificar a origem dos recursos que movimentou.

Mas as investigações revelaram vários indícios de fraude na contabilidade das empresas de Valério. Houve maquiagem nos balanços e documentos foram queimados para apagar rastros, de acordo com os investigadores.

Em 2006, ao apresentar a denúncia que deu origem à ação do mensalão, a Procuradoria deixou de lado várias pessoas que apareceram como beneficiárias de repasses de Valério para se concentrar nos líderes partidários que se tornaram réus do processo.

Contratos que as agências de Valério tinham com os Correios, a Eletronorte e o Ministério do Esporte também não foram examinados, porque a Procuradoria achou suficientes os indícios de desvios que encontrou ao analisar a execução dos contratos de Valério com o Banco do Brasil.

O principal inquérito da Polícia Federal sobre o caso foi concluído no início do ano passado pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, que sugeriu à Procuradoria-Geral da República a abertura de novos inquéritos para dar continuidade às investigações.

O relatório de Zampronha levanta suspeitas sobre dois diretores e um funcionário das empresas de Marcos Valério que fizeram diversos saques nas agências do Banco Rural em Brasília e no Rio de Janeiro e não foram incluídos entre os réus do processo que será julgado agora no STF (Supremo Tribunal Federal).

Tudo somado, essas três pessoas sacaram R$ 2,1 milhões, segundo o relatório de Zampronha. A PF desconfia que esse dinheiro também tenha sido entregue a políticos indicados pelo PT e seus aliados, mas não identificou os destinatários dos valores.

O relatório de Zampronha também apresenta indícios de que parte do dinheiro do esquema foi usado por Marcos Valério para comprar cavalos e fazendas. A polícia chegou a sugerir o confisco dos imóveis, mas nenhuma decisão foi tomada até hoje.

O inquérito também apontou repasses para quitar dívidas contraídas pelo PT na campanha de 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu, transferências atípicas para companhias de comércio exterior e suspeitas sobre mais de 20 pessoas físicas e jurídicas.

A Procuradoria recebeu o relatório de Zampronha em março de 2011. Quase um ano depois, em fevereiro deste ano, o processo foi despachado para o gabinete do ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão no Supremo.

Desde então, advogados de Marcos Valério e outros réus tentaram obter informações sobre o andamento das investigações e providências que teriam sido tomadas após as recomendações de Zampronha, mas não tiveram acesso ao processo.

fonte: Folha de SP