O delegado aposentado Durval Barbosa delatou, em 2010, o esquema de corrupção que ficou conhecido como “mensalão do DEM”. As imagens e informações que ele apresentou provocaram a prisão do então governador de Brasília José Roberto Arruda, a renúncia do vice-governador Paulo Octávio e a cassação de vários parlamentares da legenda. Durval agora revela um lado ainda desconhecido do escândalo: o envolvimento do PT e de petistas importantes na preparação das denúncias. Em reportagem da revista VEJA desta semana, o delegado detalha a participação do atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, na preparação das denúncias. Além disso, ele aponta o envolvimento na trama de José Antônio Dias Toffoli, ex-advogado geral da União e atual ministro do Supremo Tribunal Federal, e acrescenta que o cronograma das denúncias que fulminaram o DEM obedeceu à agenda eleitoral do PT.

Em longa entrevista a VEJA, Durval (que, é bom lembrar, foi participante ativo do esquema que mais tarde viria a delatar) relata que, em junho de 2009, recebeu a visita de Agnelo Queiroz, então pré-candidato do PT ao governo do DF. Mostrou a ele as célebres imagens de José Roberto Arruda embolsando 50.000 reais de propina de empresários de Brasília, além de outras gravações, e Agnelo se mostrou excitado: vislumbrou a oportunidade de tirar definitivamente Arruda do páreo eleitoral. O petista saiu da reunião com uma amostra do material e o compromisso de envolver a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal na investigação. Prometeu também ao delegado uma secretaria em seu futuro governo. De maneira semelhante, José Antônio Dias Toffoli teria recebido cópias de gravações em que o então vice-governador Paulo Octávio negocia benefícios a empresários em troca de propina. Procurados pela reportagem da revista, tanto o governador quanto o ministro do STF negam ter recebido vídeos ou áudios de Durval. Queiroz só admite ter assistido às gravações no gabinete do delegado.

Durval também relata que tem sido alvo de ameaças – e que recentemente um emissário de Agnelo Queiroz ofereceu 150.000 reais para que ele não fizesse denúncias contra o governador do DF. O mensageiro, diz Durval, foi o atual chefe de polícia de Brasília, Onofre Moraes. A proposta, diz ele ainda, foi feita ao seu amigo, o jornalista Edson Sombra – que a teria registrado.

Leia abaixo breve trecho da entrevista concedida por Durval a VEJA:

Durval Barbosa

O senhor mostrou ao governador Agnelo Queiroz a fita do então governador José Roberto Arruda recebendo o pacote de dinheiro antes mesmo de entregá-la à polícia?

Mostrei, no meu computador, em meu gabinete. Foi no primeiro semestre de 2009, um ano antes da campanha eleitoral.

O Agnelo ficou com cópia do material?

Ele pegou uma cópia de outra fita. Ele pegou a cópia de uma fita do vice-governador Paulo Octávio, mostrando que assessores dele estavam cobrando propina para facilitar negócios no governo. Aí ele falou: “Nossa, essa fita é horrível”. Eu falei: “Leva como exemplo para o procurador.”

Um amigo do senhor contou que o ministro Dias Toffoli também teve acesso a esse material antes da polícia e do Ministério Público. É verdade?

Sim. O ministro Dias Toffoli recebeu uma amostra quando ele ainda era advogado-geral da União. Mas isso é outro enredo. (…)

Ele ajudou?

Depois disso, a Procuradoria da República entrou no caso.

Fonte: revista Veja