O produtor rural e compositor de música nativista, Mauro Ferreira, usou a poesia para expressar o descaso com o estado da RSC-473, que liga Bagé a Lavras do Sul, na região da Campanha. Há 40 anos passando pela estrada de chão, ele critica a demora do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) em apresentar uma solução para pavimentar os 80 quilômetros entre os dois municípios.

– O escrito foi um desabafo de quem está há 40 anos morando em Lavras do Sul e ouve, há 40 anos, promessas – revela Ferreira.

Em setembro, moradores já haviam organizado uma churrascada às margens da rodovia, em Dom Pedrito, como forma de protesto. As obras em um trecho de 22 quilômetros, entre Bagé e Torquato Severo, começaram em setembro do ano passado. Logo em seguida, os serviços foram suspensos. As obras só foram retomadas em junho de 2013, mas o ritmo dos trabalhos incomodou até o Daer, que notificou a construtora para que acelerasse os serviços de pavimentação.

– É recorrente a história de que vão asfaltar, de que dessa vez é para valer. Num ano de obras, as obras são pífias. São lentas, quase parando. Mais do que não fazer a estrada, se parou de conservá-la. Por incrível que pareça, em vez de melhorar, está piorando. Durante um bom tempo era estrada de terra bem conservada. Agora, é uma estrada de tera mal conservada – desabafa Ferreira.

O Daer informa que já foi realizada a terraplenagem em cinco (entre o km 46 e o km 41) dos 22 quilômetros que serão pavimentados. Serão ainda feitas a terraplenagem em 17 quilômetros. Também serão feitos os serviços de drenagem e pavimentação de todo o trecho. A previsão de conclusão era agosto de 2014, porém, com os seguidos atrasos, um novo cronograma será elaborado prevendo a nova data.

Confira a poesia “Estrada Lavras X Bagé“, de Mauro Ferreira:

O cenário persiste na paisagem,
 e o caminho resiste em dar passagem.
 A angústia que parece interminável…
tornando o viajar insuportável.
 A saga de promessas e de planos
 renovados de quatro em quatro anos.
 A história de mentiras recorrentes
 que contamos pros nossos descendentes.
 A espera que transforma gente em ilha,
 distanciando os amigos e a família.
 O caos para o turismo regional.
 A trava do intercâmbio comercial.
 Cemitério de carros que perecem
 no lodo e nos buracos que hoje tecem
 um rosário de quebras e de pânicos
 que só aumentam o lucro dos mecânicos.
 Calvário de estudantes tresnoitados
 que em busca do saber, sofrem calados.
 Dos pacientes que vão fazer análise.
 Dos padecentes da hemodiálise.
 Dos doentes que usam ambulâncias
 que atolam, e eternizam as distâncias.
 Do que podia ser 30 minutos,
 e são horas de mágoa e cocurutos.

O surreal levanta-se do barro
 e as tropas vão mais rápido que os carros.
 O homem isolado por um brete
 no século do chip e da internet.

Uns poucos operários sem alarde
 mateiam o descaso em plena tarde.
 Um ano de uma obra que se clama
 resulta em três quilômetros de lama.
 Um asfalto que tanto foi proposto
 transforma-se em piada de mau gosto.
 Caminho que une (?) Lavras a Bagé.
 Se um dia foi estrada, já não é.

Fonte: Blog Estamos em Obras / Rádio Gaúcha