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No dia 29 de setembro de 2006, o Boeing da Gol cai em uma mata fechada ao norte de Mato Grosso, vitimando 154 pessoas. O acidente expôs a fragilidade do sistema de controle do trafego aéreo nacional. Além disto, mostrou também as brechas que existem no sistema jurídico brasileiro. Os pilotos americanos do jato Legacy, que colidiu contra o Boeing e causou a queda, foram considerados culpados. Entretanto, ambos permanecem livres e o processo se arrasta, abrindo inclusive a possibilidade de prescrição da pena.

No dia 21 de março de 2007, em discurso proferido no Congresso Nacional, o então deputado federal Júlio Redecker, embasado por uma série de provas contundentes, alerta que as decisões do Governo Federal, relacionadas ao controle e a segurança do tráfego aéreo brasileiro, estão seguindo um critério muito mais político do que técnico. Ele finaliza sua manifestação com as seguintes palavras: “Passados 6 meses daquela tragédia, a sociedade ainda aguarda por respostas do Governo, que insiste em não ver fato determinado para a instalação de uma CPI. Agora, cabe a esta Casa agir para que possamos voltar a voar com segurança e para que mais famílias não sofram a mesma dor.”

No dia 17 de julho de 2007, o airbus da TAM derrapa na pista molhada do aeroporto de Congonhas e explode ao se chocar contra um prédio. O desastre foi causado por vários fatores: a liberação irresponsável das obras da pista, mesmo sem a realização do serviço de grooving; a equivocada decisão de não desviar o avião para outro aeroporto, mesmo com as péssimas condições de atrito e freagem da pista molhada de Congonhas, bem como o reverso pinado de uma das turbinas, o que levou à perda de controle da aeronave. Neste acidente, 199 pessoas perderam a vida. Entre elas, meu pai, Júlio Redecker.

No dia 4 de maio de 2015, a Justiça Federal absolve todos os acusados de responsabilidade criminal no acidente de Congonhas. Mesmo admitindo que os acusados assumiram o risco de um acidente por liberar a pista antes da conclusão das obras e por não tomar medidas para melhorar as condições de segurança no aeroporto, o Juiz argumentou que, devido a operação inadequada dos manetes de potência por parte dos pilotos, o acidente aconteceria de qualquer jeito. Ou seja, enquanto todos esperavam uma decisão racional, baseada nas provas, o Juiz preferiu fazer um exercício de futurologia.

Esta trágica sequência de fatos não deixa de ser uma metáfora do Brasil, sobre o tipo de país que construímos. Porque todas estas crises atuais não aconteceram por acaso, do nada, de uma hora para outra. Todas elas iniciaram lá atrás, a partir de decisões erradas, de critérios tortos. E sobre elas, houve aqueles que nos alertaram, exibindo provas incontestáveis. Infelizmente os interesses de alguns tem se sobressaído ao bem de todos. Mas quero pensar que isto está mudando e que as pessoas estão acordando, percebendo a importância da sua participação ativa no processo político. Espero sinceramente que seja assim. E que nenhuma tragédia a mais seja necessária para evidenciar os nossos erros.

 

Lucas Redecker
Secretário de Estado de Minas e Energia do RS
filho do ex-deputado federal Júlio Redecker, vítima da tragédia